Você queria aprender a desapegar das pessoas como ele desapegou de você, não é? Ainda te dói pensar no assunto... você ainda tem amarras bem pesadas no peito, mas nas primeiras semanas após a ida dele, você ficou sem saber o que fazer. Saía cansada da universidade, a cabeça cheia, e no ônibus você planejava durante o caminho inteiro: "assim que chegar em casa eu vou dormir pra evitar pensar nele", por já saber o que acontece todas as noites. Mas você sempre falhava miseravelmente.
É, algumas paixões são difíceis de matar.
Você se perdia na noite, encurralada pela madrugada. Em pensamento, você o trazia de volta. Imaginava mil coisas. Conscientemente, você esperava por ele. Você segurava o telefone na mão, bolava de um lado para o outro na cama, ligava a TV, ficava de pé. Esperava que a porta batesse, que ele aparecesse de surpresa na janela do seu quarto, igual o que os amores dos filmes românticos fazem por seus amores. Você só queria ver ele.
De certa forma, você via, sim, mas em pensamento. Ele voltava e dizia que nunca foi a intenção dele te magoar, que as coisas não precisavam ser desse jeito e que ele queria voltar para que vocês se tornássemos algo que nunca foram. Você sorria, boba e apaixonada; repousava sua mão sob o peito nu dele e o sentia vivo. Ficava assim... em silêncio, ouvindo o coração dele bater. E você pensava, quieta:
"ele está de volta, e é meu. Seremos felizes".
Vocês conversavam sem parar, porque parecia não haver tempo para os dois. Ele voltou e ficaria — não existia outro lugar em que ele quisesse estar.
E aí, vocês se lembravam das pessoas que desmotivaram vocês lá atrás, quando disseram que a relação não iria para frente pelo fato de vocês pertencerem a mundos diferentes. E você sussurrava no ouvido dele, ainda naquela noite, que você se compatibilizaria a ele, se preciso fosse. Você se renunciaria, pois o amava e o amor pede esse tipo de sacrifício. Ele também dizia que se compatibilizaria a você, em sua totalidade (ele disse que viria inteiro, agora). Você se desfalecia de amor.
Perdia todo o senso.
Mas...
Ainda nas madrugadas, você acordava pra dura realidade. E chorava. Aos prantos. Puxava o lençol para si, depois atirava-o longe. Você adormecia de dor de cabeça e acordava no outro dia, sabendo que esse ciclo vicioso se repetiria: acordar-ônibus-pensar-chorar-e se...-faculdade-noite-madrugada-ele de volta-acordar.
Você agia assim, não porque era fraca e não conseguia arrancá-lo de dentro de você. Eu compreendo, existem certos tipos de amores que não acabam, mesmo quando chegam ao fim. E o seu continua no seu peito: vivo e enraizado. Ardendo...
feito ferida.
Mas você é uma iludida se acha que ele vai voltar.
Ele nunca esqueceu o caminho de volta. Ele voltaria, se quisesse. De olhos fechados. Mas ele decidiu te abandonar, te deixar na sarjeta da solidão e da depressão, com uma razão: ele não te ama e o que ele sente por você, hoje, não é mais afeto, mas pena. Não se compara ao que você sente por ele. Vocês não se separaram por causa de incompatibilidade ou por realidades diferentes, vocês se separaram porque ele preferiu alimentar o ego dele com outras mulheres diferentes de você, porém iguais em fisionomia e estrutura de corpo. Ele te procurará em cada mulher.
Porém, ele não voltará.
Então deixe-o ir. Ele pagará pelo que fez a você. Centavo por centavo.
E você ficará bem. Um dia.