Eu tenho medo dos fins antes de eles se concretizarem. Antes de alguém cruzar a porta pela última vez, eu começo a sentir um medo enorme do adeus. Às vezes até procuro pelos sinais da partida: foi a defesa que a minha alma encontrou pra tentar sentir menos quando o fim de verdade chegasse.
Triste notar que eu me acostumei a ver as pessoas indo embora, às vezes pelos motivos mais bobos, insuficientes ou incompreensíveis. Pelo menos pra mim. E por tanto tempo eu fiquei me perguntando o que eu tinha feito de errado, antes de compreender que às vezes os outros só precisam ir. Ficar sozinhos. Encontrar outros rumos. Talvez outros colos. E na maioria das vezes eu não fiz nada de chocante ou alarmante pra causar a despedida: só não era pra ser. Aquele amor não poderia continuar existindo, ou sequer teria espaço pra começar a existir.
E hoje, mesmo sabendo que tá tudo bem, que ciclos se renovam, que a gente pode aprender com o que passou e se reconstruir, eu ainda tenho tanto medo. Medo de começar a gostar muito de outra pessoa e ela de repente sumir. Medo de me sentir pequena e insuficiente, mesmo sabendo que esses ciclos são naturais. Medo de passar dias ou meses esperando as dores se curarem pra estar pronta pra voltar a gostar da minha completa solidão e, qualquer hora, tentar estar com alguém de novo.
Não nego, ainda não é fácil me relacionar. Nem parece que ficou mais fácil nos últimos tempos. Mas eu engulo meus medos e culpas e sigo em frente. Sei que cada experiência me torna mais forte e mais viva. E que cada despedida me faz lembrar da minha própria resistência a um mundo que parece ter medo de se entregar. E que esforço eu faço pra continuar me entregando. Ainda que não por inteiro.
Sou humana, afinal. Eu sinto. E tenho orgulho de sentir tanto. E tenho respeito pelas minhas falhas e pelos meus medos. Prometo, dia após dia, continuar sentindo: medo, amor, raiva, esperança, felicidade e alívio. De tudo. Incluindo a dor das próximas despedidas.
Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente
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